Minutos finais do primeiro tempo, placar em 0x0. Erro de saída de bola do Santos, presente de Kevyson para Everaldo. O centroavante dispara e resolve arriscar o chute, mas João Basso desvia e joga pela linha de fundo. Só resta a um desesperado Thaciano, livre e de cara para o gol, lamentar. Surge mais um capítulo da já desgastada relação entre o camisa 9 e a torcida do Bahia.
Não é de hoje que os tricolores ficam na bronca com Everaldo. Com apenas três gols em 21 jogos do Brasileirão – sendo 15 como titular -, o jogador é um dos mais criticados do elenco. Ainda amarga um jejum de 45 dias, pois não balança as redes rivais desde 6 de agosto, no 3×1 sobre o América-MG, na Arena Fonte Nova, pela 18ª rodada.
De lá para cá, o centroavante participou de todos os seis compromissos do Esquadrão, sendo titular em quatro e reserva em dois. Passou em branco em todos.
O cenário condiz com as estatísticas de Everaldo neste Brasileirão. Com os três gols em 1.321 minutos em campo (fora acréscimos), o atacante leva uma média de 440 minutos para fazer um. O que dá uma média de quase cinco partidas completas até conseguir marcar.
O número é estranho ao se falar de quem deveria ser o homem-gol da equipe, mas é resultado de uma produção ofensiva modesta – esse ponto diz respeito a todo o time, não só a ele. Afinal, Everaldo finalizou apenas 33 vezes, média de 1,6 chute por jogo. Mas destas, somente 12 foram na direção do gol. Ou seja, a média é de 0,6 finalização certa por partida. Os dados são do SofaScore.
Convertendo esse último número para tempo, o atacante leva cerca de 110 minutos no gramado para acertar o alvo. Isso daria um jogo completo e ainda mais 20 minutos só para ter uma finalização no alvo.
Em quatro partidas no Brasileirão, Everaldo sequer finalizou. Esse cenário, porém, aconteceu em jogos em que começou como reserva. Ele também saiu do banco na derrota por 3×0 para o Botafogo, fora de casa, e teve chance de marcar: foram três chutes, sendo um na direção do gol.
O desempenho ruim do camisa 9 fez a torcida do Bahia cobrar a contratação de um novo centroavante na última janela de transferências, o que não aconteceu. Sem muitas opções, o técnico Rogério Ceni defendeu a manutenção de Everaldo entre os titulares após a derrota por 2×1 para o Santos, em casa, na segunda-feira.
“Vejo ele como o melhor jogador à disposição do ataque nessa função, de camisa 9. Tentou, batalhou. No momento em que achei que ele cansou, entrou o Vini [Mingotti] no lugar dele para tentar fazer a proximidade na área, finalizações. Dentro do elenco que foi montado aqui, acho um jogador interessante, importante, por isso foi escolhido para jogar em Curitiba [contra o Coritiba]. Apesar de não ter feito gol, participou de muita proteção de bola, ajudou de todas as maneiras possíveis”, argumentou o técnico.
Ao chegar ao Bahia, na semana passada, Ceni falou sobre a possibilidade de usar Ratão no comando do ataque. Após a derrota para o Santos, de virada, o treinador afirmou que testou a ideia durante treinos, mas citou a ausência do volante Rezende (suspenso), um dos mais altos do time, para manter Everaldo entre os titulares e indicou que ainda dará oportunidades ao centroavante.
“Um dos treinos que fiz, utilizei ele [Ratão] como 9. Experimentei ele dessa forma, acho que nesse treino Biel trabalhou pelo lado esquerdo. O nosso time, quando não joga Rezende, é de estatura baixa. Se tirar Everaldo – que é um jogador que tanto ataca muito bem a bola quanto na parte defensiva, dos escanteios, defende muito bem -, acaba perdendo em bolas paradas. Quando Everaldo sai, o gol acontece. É preciso ter um equilíbrio de altura e força. Biel é muito talentoso, leve, mas, na hora do corpo a corpo, Ratão sustenta melhor. Não podemos fazer um time com biotipo muito leve e que seja atropelado fisicamente no jogo. É uma possibilidade? É. Mas ainda acho que Everaldo pode nos ajudar”, detalhou.
Ceni agora terá um longo período de ajustes pela frente. O Bahia só volta a jogar no dia 30, um sábado, às 16h, quando encara o Flamengo no Maracanã.